1. |
Amor Serpente
04:23
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acordo contigo ao lado
assustada com um sonho
que a casa tem fantasmas
enfiados num canto escuro
tu dizes "que dramática, é tudo ou nada contigo"
sorriso sonolento
um suspiro com fumo
carinho leva tempo
afastada durante a noite longa
puxas tanto o lábio
é tudo ou nada contigo
encanto da serpente
eu sou supersticiosa
magia venenosa
um dia a mais na cama
camuflados no corpo um do outro
a transbordar claro
é tudo ou nada conosco
e sei que gostas
da cara que faço quando estás dentro de mim
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2. |
Estagnação
04:04
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foi meia volta pra chegar ao mesmo sítio
onde eu me lembro tudo é tão aborrecido
e eu sei que incomoda se gostas aturas, vou já corrigir
dá me moleza quando pedes pra subir
não gosto de nada quero ser infeliz
eu dou te a custódia, tou farta de mim
um soco na cara sorriso que diz
"acaba depressa só quero dormir"
o ar apagado sem razão é parvoíce
estado dormente um assalto aos meus sentidos
e eu sei que ignoro a mim não me assusta é coisa pequena
o mal que se espanta num abraço pra chegar ao pé de mim
agora chora é sinal de estagnação
não gosto de nada quero ser infeliz
eu dou te a custódia, tou farta de mim
um soco na cara sorriso que diz
"acaba depressa,quero dormir"
é tudo abstracto quase desisto
um nó na garganta, um shot de uísqui
é tanta comida pra pouco apetite
pedi-te atenção a troco de nada
me diz nada me diz nada me diz nada
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3. |
Fado do Salineiro
04:00
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pé descalço
amanhecer
no cristal
olho verde
só mostra dente
se casar
velho adolescente
tem chapéu a nuca quente
a estalar
guarda o que sente
timidez ou consciente?
é capaz
corpo pesado
intrasigente
vida dura
empurra
vem o patrão
apanha o pó da mão
anormal
pensa "eu mereço, tou à espera do bom senso"
põe te a pau
espera pelo momento lusco-fusco em setembro
pra caçar
ergue acima o punho
espeta a faca como no sonho
é fatal
golpe imprudente
e não gemeu
o abutre
saiu impune
moço salineiro endoideceu
à procura
afunda
chega janeiro
foi à cova com o coveiro
seu pai
vai salineiro
foi mais drama que proveito
mais um
rapaz
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4. |
30
03:10
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junto à chama da vela em segundos
sente-se o frio a gelar a ponta dos dedos
perco confiança quando olhas pra outras mulheres
sem acne sem excesso de peso reflexo a provocar
um distúrbio
sincera observação, quando faço barulho
impede de pensar apesar da psicoterapia
criança, adolescente e de repente
nos 30
perto do fim, o cansaço,
o fumo
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5. |
Holofote
02:26
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um pedaço de história
as algemas do tempo
tanta guerra morte e glória só prós mesmos de sempre
e nunca se falou tanto de valores e nomes justos
ao mesmo tempo não pensamos somos tontos e brutos
carregamos um passado que não se adequa ao presente
não há verdade absoluta sem a mentira ocasional
e eu sei que sou banal, nunca me achei extraordinária
só gostava de ser a gaja que eu achava que ia ser
com 13 anos no quarto a tocar só para mim
uma atitude vanguardista prá nossa actualidade
miserável
holofote no palco, outra estrela cadente
se eu me atirasse da ponte, pra onde é que olhava toda a gente?
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6. |
Pico
03:56
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barba rala, sinto o pico
cor amena azul marinho
no continente
é como enigma
eu sou ibéria
tu és ilha
cachalote à superficie
saca óleo hoje é crime
contradiçao
a cruz erguida
eu canto verso
tu és artista
lá do cimo cai-se a pique
se'és vulcão eu sou Monchique
pra esclarecer
não há um certo
és oceano eu sou do Tejo
peninsular
insular
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7. |
T-Shirt
03:20
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tava combinado
suar-me tanto
traz aquele cheiro à t-shirt
passa pela foto
sente-se uma bosta
e quer-se aliviar
pega no motor
toca na carraça
coça coça nela
pudera
safada
achavas que era quem?
é virtual
nunca se mostra
quem sabe se é herói?
ou um porco a sorrir?
quem sabe se é heroi
virtual?
perde a humidade
mas está de volta
agora já não seca
espera
tá a 'crashar'
ignora
e volta a ser
virtual nunca te vi
quem sabe se é herói?
ou um porco a sorrir?
quem sabe se é heroi
virtual?
o legado moralista
fascinante hipocrisia
lava a cona com lixívia
mas vai ao estrageiro
quando é para abortar
incoerencia asfixia
por momentos
parece que há justiça
nada muda como eu queria
queres boas maneiras?
eu tou-me a cagar
tava combinado suar-me tanto traz aquele cheiro à tshirt
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8. |
RIP
01:55
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amante reciclável como prometeu
parecia granda achado logo pus o véu
dizias "tudo é falso" sangue a ferver
mais tarde revelaste-te fantoche como eles
sorrir a provocar
olhavas com desdém
ficaste de capucho
a ver-me corroer
conversa do caralho como se pode ver
um homem tão seguro sofre como eu
em pleno aniversário chegaste sem presente
já tinha antecipado a nova concorrente
fui tonta quis empate, sem doer
perdi todo o controlo a patinar no gelo
sentir-me a definhar
frieza do sujeto
100% sanguessuga
a tísica a sofrer
conversa do caralho como se pode ver
eu sei que faço luto quando nem morreu
um homem tão seguro sofre como eu
a lábia do defunto...
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9. |
Obsessão
02:08
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presa ao aspecto
não disfarça a emoção
perder mais um afecto
boas-vindas à solidão
encalhada, fechada em vão
desejada, amada, mas não
soma uma derrota
verbaliza separação
vai uma aposta
prá semana já se dão
tu com outra, bonita relação
empenhado a dar-lhe a mão
pus-te tão acima a mim
nem merecia atenção
mesmo quando doía
eu pedia-te opinião
despertava o medo de rejeição
aumenta a má conexão
agora só vergonha
de me ter posto numa situação
à espera dum gesto romântico ou outra revelação
destinado fracasso de verão
transformar amor em negação
obcecada
a dor no coração
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10. |
Metadata
03:37
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é pesado ser um centro vigilante e estabelecer
alarme ao movimento que é suspeito
agacha caí ao chão
a terra vai tremer
contexto é temporário quando passa sem se ver
eu mostrava-me optimista mas previ a tempestade
e estalas o pescoço já merecias proteger
saca carta do baralho e saíu o enforacado
quer-se dar a quem
se dá de volta
põe-se a comprimir a amplitude
custa existir
e dói de tal maneira
ficar a ver navios
mas pensa no futuro canaliza esse saber
que detrás duma cortina passa sempre o autocarro
sorrir o tempo inteiro não consigo prometer
mas fazer a coisa certa alivia a ansiedade
tu pensas que és buddha, precisas de ajuda
e sais com outra cara mais bonita sem saber
a idade não limita muito antes p'lo contrário
e vem cantar tão bem
coragem é largar e progredir
andava tão esquecida nunca quis
errar e fazer merda
assumo sou juiz
ser mais vulnerável é incrível isso diz
que abordar a fantasia contrapõe a falsidade
falamos uns dos outros impossível ser feliz
eu tomava comprimidos se achasse que mudasse
passou-me p'la cabeça uma fé e converter
mas entrego-me ao instinto e agarro na guitarra
e vai-se pouco a pouco a vingança a esmorecer
apesar dessa presença continuar um obstáculo
segura no meu quarto formalizo ele vê que
afinal esse romance nem sequer era amizade
tu foste tão básico
construo a auto-estima que contigo eu perdi
sou tão mais do que imaginas
tu não sabes o que perdes
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11. |
Coisas do Passado
03:33
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Segue o rumo o presente repete
As coisas do passado
Engraçado como a memória converte
As coisas do passado
Instituir o modelo perverso
Com as coisas do passado
Não se explica porque é muito complexo
As coisas do passado
Quem diria que a sombra revela
as coisas do passado
Masoquista festeja e celebra
as coisas do passado
Queres andar à chuva
Mas porquê se já estás tão molhada?
A candidata não se encaixa no perfil
E rapa a pente zero, ou desfaz a trança e queima a saia
“Perdeu-se tanto” não tinhas nada
Coisas do passado
Ocultar episódios de assédio
São coisas do passado
Insinuar fragilidades do meu género
São coisas do passado
Coisas do passado
Queres andar à chuva mas porquê se já estás tão molhada?
Foi internada, era linda está senil
E o karma só se paga quando Deus já não nos quer pra nada
Tou no futuro, é a mesma farsa
Coisas do passado
Queres andar à chuva mas porquê se já secaste?
Sacana, filha-da-puta com discurso infantil
E pra me dar esperança, vou despir o roxo por ser da Páscoa
É tão absurdo, nem lembra o papa
Coisas do passado
Coisas do passado
Coisas do passado
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Maria Reis Lisbon, Portugal
1993, Lisbon Musician
Pega Monstro and co-founder of the record label Cafetra Records
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